segunda-feira, dezembro 03, 2007

A primeira lágrima...



Ao passar pela marginal vi os teus pensamentos pairar sobre a praia. Libertaram-se da tua cabeça e ali andavam eles, a errar sem rumo definido até que tu tomasses conta da situação. Não estavas capaz… Inclinei-me sobre o volante na direcção do mar e lá estavas tu, sentado, de costas direitas… Olhavas o mar!

Olhos fixos…

ar inalterável, mas distante…



muito distante.

Por onde andarias tu?

Concentravas toda a tua existência nas ondas que ora iam ora vinham… partilhavas os teus segredos com elas, as tuas confidentes. Os teus silêncios que fechas todos os dias a cadeado para não permitires que nenhum intruso os veja, os sinta, os tome de ti…

Percorro todo o areal até chegar a ti, sentes-me a aproximar. Desaperto as sandálias e deixo-as cair. Agacho-me e contemplo o mar, as ondas, sobre elas vêm todos os teus segredos disfarçados pela espuma da rebentação… Fito-as, aprendo a olhar e a ver…

Tu… Eu…

Tu… Eu…

Tu… inquieto…

Tu… ansioso…

Tu… em desassossego…

tentas mandar embora as ondas, mas elas rebentam na areia, cada vez com mais força, deixando impressos os teus sonhos, os teus segredos… ali, mesmo à beira-mar para quem queira ver, para quem os queira conhecer, para que quem voe sobre o areal os possa ler... De longe parecem bem pequenos, tenho a certeza, insignificantes até... Mas eu estou a conhecê-los de perto… bem de perto…

Olho-te nos olhos, agora já te “sei”! Estás transparente por dentro, diante de mim. Sentes-te desconfortável, mas não há nada que possas fazer para reverter a situação. Abotoas os botões do casaco até ao queixo mas continuas… nú! Observo-te com os meus olhos perspicazes, dispo-te a máscara, esmiúço o teu interior… a parte de ti que ninguém conhece. Até mesmo tu já não te recordas dela, de tanto que a tentas encobrir! Apercebeste que não há nada a fazer a não ser admitir aquilo que sentes…

Torno a contemplar o mar e perco-me naquela imensidão. Sinto desejo! Olho para o céu e vejo a lua. Sinto-me agitada! Faço amor contigo ali mesmo, debaixo de um céu estrelado que o mar reflecte como um espelho. Mergulho naquele mar tão calmo e tão impetuoso!

Serás tu?

Será o mar?

Serei eu?


Quanto terminamos beijo-te nos lábios e levanto-me. Um beijo rápido. Parto sem sequer me voltar…

Deixas cair uma lágrima…
Agora conheço a tua “transparência interior”. Mostras a tua fragilidade.

Mas tu…

tu és um homem e os homens dizem-se fortes,

tão fortes,

tão fortes que chegam a ser os seres mais frágeis que existem!

Preferem um nó na garganta ao cair de uma lágrima.
Preferem ser agressivos ao demonstrar o quanto se sentem magoados.
Preferem mostrar que se sentem bem, manter uma mascara imperturbável e fingir um sorriso ao invés de te olharem nos olhos e terem a coragem de dizer: “fazes-me falta!”

Oiço a tua lágrima cair por entre os grãos de areia… volto-me para ti, mas… acho que sou “forte”, tão “forte”que…

sou incapaz de dizer o que me vai na alma,
as palavras morrem-me na garganta!
um grito mudo escapa por entre os meus lábios mas o meu medo logo o cala e tu não ouves nada…

tão forte,

tão forte,

tão forte que…

sigo o meu caminho… e fujo….

amanha não te conheço!*