Também tu podes ter medo de sentir...
Agarra a minha mão. Agarra-a com força! Entrelaça todos os teus dedos nos meus. Não me deixes cair! Tenho medo do abismo que se afigura lá em baixo. As nuvens que se formam ao redor da minha cabeça turvam-me a visão. Um nevoeiro cerrado não me permite enxergar nada em volta, nem mesmo o teu rosto. Já não sei quem és...
Quem és tu que te recolhes na sombra?
Quem és tu que me mantém segura?
Ou serei apenas eu? Uma partida da minha mente?
Serei eu que, receosa daquele sorvedouro, cravo os meus dedos em tudo o que alcanço para não cair?
Sopro!
Sopro com muita força, com toda a força que me é permitida. Tento dissipar as nuvens à minha volta para te ver, para te comprovar ali!
Estico-me o mais que consigo e tento agarrar o Sol com a outra mão. Preciso de luz! Ele foge de mim, sinto-o a afastar-se cada vez mais...
Cada vez mais...
a escuridão
a escuridão
a escuridão...
Tu...
a embrenhares-te na sombra.
Um vulto cada vez mais ténue equivoca-se na névoa, sou incapaz de distinguir os teus limites. O teu semblante já escureceu na minha memória.
A tua mão cede perante a minha. Começas a perder as forças. Balanço-me para os lados para me impulsionar e conseguir chegar a ti.
Porque foges?
Porque fraquejas?
Porque finges não ter força para pairar sobre o vazio?
Estende as asas!
Deixa-te ondear pelo vento, ele levar-te-á a bom porto, tenho a certeza...
A brisa roça-te nas faces e faz-te pensar...
Aproximas-te, mas logo em seguida tornas a recuar... Tentas largar a minha mão mas eu alcanço-te com a outra. Estás frágil e transparente como um pedaço de vidro...
Vejo o teu pensamento.
Leio-to em palavras.
Também tu podes ter medo de sentir o coração partir, de vez em quando...
Se ele não voltar... eu abro as asas e voo a procurá-lo por entre as nuvens, vasculho por trás do Sol, abano a Lua e trago-o de volta a ti...
Se ele não voltar... eu abro as asas e voo a procurá-lo por entre as nuvens, vasculho por trás do Sol, abano a Lua e trago-o de volta a ti...
Prometo!